Martha Adaime assume oficialmente Reitoria e UFSM tem, pela primeira vez, uma mulher à frente da instituição

Martha Adaime assume oficialmente Reitoria e UFSM tem, pela primeira vez, uma mulher à frente da instituição

Foto: Vinicius Becker (Diário)

Por décadas, a parede que eterniza os retratos dos reitores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) exibiu apenas figuras masculinas. Esse padrão muda a partir de deste dia 25 de dezembro, quando Martha Adaime assume a Reitoria e coloca, pela primeira vez em 65 anos, o nome de uma mulher à frente da instituição. Fato que a posicionará, ao final da sua gestão, na história e galeria da Universidade. 


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Com o fim do mandato do então reitor, Luciano Schuch, no dia 23, Martha assumiu como reitora substituta no dia 24 e, oficialmente, como reitora titular ontem– data que consta na portaria do Ministério da Educação, que a nomeou em 19 de dezembro. Já a transmissão de cargos ocorre no dia 6 de janeiro.

 A notícia foi recebida ainda de madrugada e, conforme a reitora, chegou acompanhada de notícia da nomeação foi um momento de felicidade.

– Foi muita alegria, sim. Eu me senti extremamente honrada. Ao longo do ano, o ministro (Camilo Santana) deixou muito claro que, para ele, reitor ou reitora eleita é reitor ou reitora empossada. Isso muda completamente o ambiente. Isso faz muito bem às universidades e à democracia – avalia ela,ao se referir ao compromisso público do ministro da Educação em respeitar o resultado da consulta acadêmica.

Martha foi escolhida, ao lado do vice Tiago Marchesan, após conquistar a maioria dos votos em uma pesquisa de opinião realizada com alunos, professores e servidores. A chapa recebeu 9.189 votos, o equivalente a quase 58%. O adversário era o ex-reitor da instituição, Felipe Müller.


O desafio de Martha Adaime

A UFSM:

  • 4 campi (Santa Maria, Frederico Westphalen, Cachoeira do Sul e Palmeira das Missões)
  • 26,7 mil alunos
  • 279 cursos
  • 2.080 docentes
  • 2.475 Técnicos Administrativos em Educação (TAE)
  • Orçamento total de R$ 1,5 bilhão – sendo R$ 150 milhões para custeio (manutenção da UFSM, como pagamento de energia elétrica, segurança e limpeza) e investimento (obras ou aquisição de materiais e de novo serviço)

Fonte: UFSM em Números


Uma trajetória construída passo a passo

Filha do bancário Jorge Adaime e da dona de casa Lecy Maria Bohrer Adaime, Martha é a caçula de quatro irmãos. Passou no vestibular para Química Industrial logo na primeira tentativa. Embora o mercado de trabalho estivesse aberto, foi na docência que encontrou propósito. Aos 26 anos, em 1989, já era doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No mesmo ano, ingressou como professora na UFSM. Era o início de uma carreira que soma 36 anos de dedicação à instituição.

Os anos seguintes trouxeram novos desafios administrativos. Martha assumiu funções de chefia no Departamento de Química, foi vice-diretora e, posteriormente, diretora do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), cargo que ocupou de 2006 a 2014. Foi nesse período que viveu sua primeira disputa eleitoral na UFSM. Em 2009, integrou a chapa como candidata a vice-reitora ao lado de Paulo Burmann. Sem apoio político consolidado e com pouca experiência em campanhas institucionais, a chapa foi derrotada.

Já são mais de três décadas dedicadas à UFSMFoto: Vinicius Becker (Diário)

A dedicação ao trabalho, por vezes, afastou Martha de sonhos pessoais, como o da maternidade. Ela conta que esperou ter estabilidade para engravidar. Mas quando isso aconteceu, conta que não conseguiu, apesar das tentativas.

– Você poderia perder a bolsa se engravidasse – justifica.

Hoje, Martha brinca que encontrou outra forma de cuidar: sob sua responsabilidade estão mais de 20 mil estudantes, além do convívio próximo com sobrinhos e familiares.


Vice-reitoria, transição e o desafio de liderar

Entre 2022 e 2025, Martha Adaime dividiu o comando da UFSM como vice-reitora, ao lado de Luciano Schuch. O período foi marcado por crises orçamentárias, desafios pós-pandemia e luto – em abril, sete estudantes do Colégio Politécnico perderam a vida em acidente com ônibus da instituição. Essa vivência, segundo ela, foi de profundo aprendizado. E, por coincidência, ela assume logo após o Congresso  aprovar um corte no Orçamento para 2026 das universidades federais de quase R$ 500 milhões, o que pode impactar a UFSM.

Martha conta que a construção da nova gestão começou ainda em outubro, de forma planejada e discreta. As equipes de pró-reitores foram escolhidas sem alarde. Após a divulgação oficial dos nomes, teve início o processo de transição entre antigas e novas gestões.

Algumas transições foram muito pacíficas, outras nem tanto, mas isso é natural. Estamos falando de pessoas, de histórias e de vaidades. O importante é que todos trabalham em prol da universidade – afirma.

Martha e Tiago terão a missão de comandar a UFSM pelos próximos quatro anos

Como marco inicial da gestão, a UFSM promoverá um seminário de gestão, que ocorrerá nos dias 6, 8 e 9 de janeiro. O encontro vai reunir a equipe para alinhar o projeto estratégico construído durante a campanha, elaborado com ampla participação da comunidade universitária e fundamentado no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).

Além do planejamento estratégico, Martha Adaime aposta na formação dos gestores:

– Vamos ter momentos de nivelamento sobre mediação de conflitos, direito administrativo básico, tramitação de processos internos, questões étnico-raciais. São temas do nosso dia a dia e que nenhum servidor em cargo de direção pode desconhecer.


Mulheres no poder 

A posse de Martha Adaime representa uma mudança histórica na Universidade. Pela primeira vez, uma mulher ocupa o cargo máximo da Reitoria. Um fato que, para ela, precisa ser visto para além de um mero simbolismo:

– Não pode ser uma política de gênero só no papel. Nós temos dados que mostram que as mulheres ocupam muitos cargos intermediários, mas ainda não chegam em número suficiente aos espaços de decisão. Isso precisa mudar. Quando se convida uma mulher, muitas vezes ela pergunta se tem condições. Quando se convida um homem, isso raramente acontece.

É por esse motivo que a representatividade feminina não está apenas na cadeira do gabinete da Reitora. Das nove pró-reitorias da instituição, cinco serão comandadas por uma mulher. Sobre as escolhas, Martha afirma que a nova gestão adotou um olhar atento para garantir equilíbrio de gênero na composição da equipe, sem abrir mão do critério técnico.

– Elas não estão ali, porque são mulheres, mas porque são capazes. O que muitas vezes faltou foi oportunidade – resume.

Em âmbito nacional, Martha destaca o fortalecimento das redes de reitoras e vice-reitoras dentro da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que discutem políticas de gênero, combate à violência e inclusão. Para ela, o momento é de avanço e de inspiração mútua entre as universidades federais.

– Mais de 50% da nossa comunidade é formada por mulheres. Esse é um marco para a UFSM e um passo importante para que os espaços de decisão reflitam melhor a realidade da universidade – conclui.


O time de Martha Adaime e Tiago Marchesan

No Gabinete do Reitor, os cargos definidos são: 

  • Chefe de gabinete: Flavi Lisboa 
  • Chefe da secretaria de gabinete: Daniele Medianeira Rizzetti
  • Assessoria do vice-reitor: Isis Portolan dos Santos
  • Assessoria de comunicação: Júlia Cervo
  • Assessoria de planejamento estratégico: Paulo Ricardo de Jesus Filho


As Pró-Reitorias serão ocupadas pelos seguintes nomes:

  • Administração (Pra): Isabel Bohrer Scherer
  • Gestão de Pessoas (Progep): Frank Leonardo Casado
  • Infraestrutura (Proinfa): André Lubeck
  • Planejamento (Proplan): Vinícius Jacques Garcia
  • Graduação (Prograd): Cláudia Smaniotto Barin 
  • Extensão (Pre): Milena Freire de Oliveira-Cruz 
  • Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP): Cristina Wayne Nogueira 
  • Inovação (Proinova): Daniel Bernardon 
  • Assistência Estudantil (Prae): Jaciele Sell


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